Nos últimos dias o iBovespa está subindo graças ao setor de siderurgia, com a expectativa de aumento na produção do aço. Enquanto isso, as bolsas nos EUA sofreram forte queda. Antigamente os EUA espirravam e o Brasil ficava de cama, mas hoje isso não acontece mais, embora ainda haja influência, mesmo que menor.
Não só bancos grandes como o Goldman Sachs, mas empresas de diversos setores apresentaram seus balanços há alguns dias, os quais foram muito aquém do esperado. Isso significa que a economia americana não está se recuperando como deveria da crise imobiliária de 2008 e da crise bancária de 2009. Dessa forma, os investidores começam a correr para a renda fixa e as ações das empresas semelhantes a essas que divulgaram seus balanços também sofrem.
Na verdade, os EUA aprenderam com a crise de 29 que, apesar de ruim, é preciso salvar os bancos em caso de uma possível depressão para evitar um pandemônio ainda maior. Seria pior deixá-los quebrar, como aconteceu há 80 anos atrás na experança de que a "seleção natural" elimine os "maus bancos" (aqueles que possuem mais passivos do que ativos, altamente ilíquidos ou insolventes). A diferença é que, ao contrário daqueles tempos, dessa vez as reformas necessárias para evitar novas crises no futuro foram muito tímidas e, teoricamente, não evitarão excessivas alavancagens no futuro próximo. Aliado a isso, os bancos salvos pelo Federal Reserve ditos "grandes demais para quebrar" se tornaram uma espécie de mortos-vivos que levarão algum tempo para se recuperarem, bem como a economia.
Agora o período é de colher a tempestade. Os bancos se desalavancarão, os EUA voltarão a crescer pouco ou até mesmo diminuir. E se os países europeus Grécia, Espanha, Portugal e Itália não conseguirem dominar suas dívidas, uma crise irá contaminar os bancos da Europa e poderemos pensar até em um fim da União Européia como conhecemos, pois os bancos daqueles países não poderão arcar com esse contexto e esses países terão que recorrer a empréstimos no estrangeiro. Tanto a Europa quanto os EUA e o Japão devem crescer pouco, cerca de 2% ao ano nos próximos anos, devido em parte à sua população esclerosada em declínio e às crises que vem se sucedendo.
E quem sofrerá também serão os países emergentes chamados BRIC's (Brasil, Rússia, Índia e China). A China é o principal deles e penso que será quem sofrerá mais. Uma crise entre os países desenvolvidos significará menor demanda pelas commodities, sendo que China e Brasil serão diretamente afetados e o crescimento esperado de 7% a 10% que tanto se fala para os próximos anos poderá ser comprometido.
Eu acredito que estamos vendo hoje o início de uma inversão na ordem mundial. Países europeus e os EUA deixaram de poupar e passaram a gastar mais. Eles vem tendo seus déficits em conta corrente. No caso dos EUA sendo financiados pela China que tem o interesse de manter sua moeda desvalorizada para manter suas exportações competitivas e faz reserva de dólares. Entretanto, a China tem como calcanhar de aquiles um consumo interno pouco desenvolvido, que representa apenas 36% de seu PIB. Se os países importadores de seus produtos não crescem, a China não vende e não poderá recorrer ao consumo interno para amenizar o problema. Mas para tapar o sol com a peneira, o governo chinês está forçando o empréstimo a torto e a direito às empresas estatais para continuarem fazendo investimentos na produção e estocarem commodities.
Mercado de Ações
A ação VALE5 é, na minha opinião, talvez o melhor papel para o médio prazo. A Vale do Rio Doce tem como principal cliente a China. Embora a China não cresça com tanto vigor quanto antes, ainda cresce muito e mantém sua política de investimento na produção. Se a China está bem, a Vale está bem. Além disso se espera que várias nações do mundo todo venham a renovar seus estoques no médio prazo.
Dessa forma, a alta procura pela commodity vai elevar seu preço até o final do ano, fazendo com que a Vale valorize muito seu papel e aumente consideravelmente seus lucros.
Nesta semana, a Vale do Rio Doce divulgou seus resultados e foi bem, como esperado. Além disso, a precificação do minério, com aumento de cerca de 100%, foi bem aceita pelo mercado, segundo executivo da própria empresa.
Eleições
Aproveito para levantar a bola a você. Após a eleição do Lula, representante do PT, verificamos que a política econômica se manteve igual, com o mesmo presidente do Banco Central, eleito na época a deputado pelo PSDB.
Você acha que hoje a política no Brasil está descolada da economia?
Acho uma questão importante em tempos de eleição, principalmente pelo medo do radicalismo que anda na sombra da Dilma Roussef.
Você acha que, não importando o candidato vencedor nessas eleições, a política econômica se manterá semelhante nos próximos 4 ou 8 anos?