18 de fevereiro de 2010

Desastres ambientais e política governamental

Uma vez fui a uma palestra na Escola Politécnica sobre o desastre que matou 7 pessoas na linha 4 do metrô de São Paulo e me motivei a escrever sobre desastres relacionados com o meio-ambiente. Nas próximas linhas citarei, explanarei e opinarei sobre singularidades ocorridas no metrô, barragens, vazamento da Union Carbide e outros.

Impactos ambientais causados por desastres podem ou não ser causados pelo Homem. Há uma polêmica acerca deste tema: muitos, principalmente aqueles que estão do lado de fora, consideram a área da engenharia uma ciência exata; porém nós engenheiros sabemos que não é bem assim. Ser engenheiro não é simplesmente estudar cálculo, mas ter também bom senso e contar com a pura sorte e boa vontade do destino. Às vezes evitar um desastre ecológico está além de nossa capacidade e apontar culpados sem ter conhecimento dos fatos é totalmente reprovável, como muitos o fizeram após a perda de 7 vidas na linha 4 do metrô paulistano. Como dizia um professor da Fatec que dava aula ao meu tio Luís: "Engenharia é composta de 50% de cálculo, 30% de bom senso e 20% de sorte".

A engenharia civil é importante na minimização e preempção destes eventos. Em geral, os projetistas prevêem falhas e deixam uma tolerância para que essas falhas não contribuam para eventualidades que possam causar o comprometimento de uma obra. No caso do metrô, tudo indica que não houve negligência devido ao fato de que as falhas e o posterior colapso se desenrolaram em um breve espaço de tempo, inibindo assim qualquer reação por parte dos responsáveis pela obra.

De certa forma, a natureza e a nossa incapacidade de entendê-la é a razão de muitos desastres ambientais, como é o caso da barragem abaixo. Em detalhe se identifica o vertedor retangular da barragem (local por onde se escoa a água armazenada em excesso). Durante a fase de projeto é comum haver assessoria de climatologistas para identificar por exemplo o regime de chuvas no local da execução da obra, dessa forma, a barragem é projetada para suportar forças correspondentes a situações extremas e cabíveis àquela região em questão. Desastres como esse são causados por excesso de chuvas e por essa razão podem ser atribuídos ao fenômeno do super-aquecimento global. O aumento da temperatura terrestre intensifica o ciclo da água, ocasionando chuvas mais torrenciais e mais constantes. Neste caso em especial o regime de chuvas foi tão intenso que a água se sobrepôs ao vertedor e inundou a jusante da construção. Em outras situações, esta singularidade provocou a morte de milhares de pessoas que viviam na jusante do local.


Não dá para falar de desastre ambiental sem comentar o maior da história: Em 23 de dezembro de 1984, a cidade de Bhopal na Índia sofreu um vazamento de gás tóxico de uma fábrica de fertilizantes pertencente à antiga Union Carbide. Em 3 dias mais de 8.000 pessoas estavam mortas e até hoje mais de 150.000 sobreviventes sofrem com os efeitos do vazamento, incluindo as gerações seguintes aos que entraram em contato com as 40 toneladas de gases liberados naquela noite. Esse é um grande exemplo como a negligência dos responsáveis pela planta atuou catastroficamente para esse fim. A empresa foi à falência com o passar dos anos e as milhares de indenizações pagas às famílias e hoje pertence à maior indústria química mundial, a DOW Company, onde minha gloriosa prima (hehehe, sinal do apreço que tenho por ela) e politécnica também trabalha.

Quando a natureza não é responsável pelo desastre, alguém tem que assumir a culpa. É claro que um colapso pode ter causas técnicas, mas na minha opinião as causas são muito mais profundas. A política governamental de contrato a preços fixos e redução de custos acaba por esfacelar o sistema de fiscalização sobre as obras públicas. Hoje, as grandes empreiteiras ficam responsáveis por tudo, tornam-se extremamente influentes e se torna difícil para um fiscal paralizar uma obra, considerando que empresas como Queiroz Galvão e Odebrecht possuem toda forma de suporte possível ao lado deles. Se o preço é baixo, para onde vai a qualidade? É uma pergunta que o governo deveria responder à parcela da sociedade que tem se declarado insatisfeita com os resultados da engenharia brasileira.

Por fim e não menos importante, o verdadeiro paradigma na análise de desastres é descobrir as razões que levaram à singularidade com o objetivo de melhorar os algoritmos de resolução e entendimento nos projetos e execução de obras. Muitas vezes um desastre ocorre porque nunca se deu atenção para um detalhe que causaria o colapso e apartir desse evento este detalhe passou a ser mensurado e a receber mais atenção de modo a evitar futuros problemas. Engenharia não é ciência exata e está em constante evolução!

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