18 de fevereiro de 2010

Energia Nuclear: “Ser ou não ser”

O pré-sal foi descoberto e foi tudo por água abaixo.

Texto escrito por mim em 2007 que reproduzo na íntegra:


A construção da nova usina nuclear Angra III deve ter início ainda este ano, entretanto, a crise política pode atrasar o aval do governo para que as obras se iniciem. O projeto deve ser concluído em 66 meses e custará R$ 5,8 bilhões de reais em 5 anos, financiados pela Eletrobrás, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e por bancos comerciais estrangeiros. Essa nova planta de produção energética a partir de urânio deve ter capacidade semelhante à de Angra II, podendo atender à demanda de uma população de 2 milhões de pessoas.

Essa notícia levanta aquela velha questão: Seria a energia nuclear perigosa? Será que essa posição cautelosa (por quê não dizer preconceituosa?) dos ambientalistas em relação ao uso de energia nuclear se justifica? Não faltam por aí defensores do modelo atual da matriz energética brasileira baseada em hidrelétricas, tidas como fonte de energia limpa, segura e renovável. Será que essa afirmação é verdadadeira? A seguir tentarei responder estas e outras perguntas que muitos têm feito, principalmente após a aprovação da construção de Angra III.

A energia nuclear não é um exemplo de fonte renovável e por isso pode ser um erro adotá-la como principal fonte energética, porém, o nível de emissão de gases poluentes é nulo na usina e o impacto ambiental só é considerável na fase de exploração mineral; portanto, é uma alternativa muito atraente no combate à amplificação do efeito estufa, ajudando na estabilização da emissão mundial dos gases que são a razão do super-aquecimento global. Por sua vez, a área alagada causada por uma hidrelétrica causa morte da vida aquática devido à decomposição das áreas verdes submersas (eutrofização) e libera gás metano na atmosfera, que é cerca de mil vezes mais prejudicial ao efeito estufa do que o gás carbônico.

Não há como citar a energia nuclear sem se lembrar do fatídico ano de 1986, quando explodiu a usina de Chernobyl. Este desastre matou oficialmente 4.000 pessoas. Além disso, cerca de 5,5% da força de trabalho ucraniana ficou inerte devido às conseqüências do acidente. Porém, o reator usado na ocasião é do tipo RBMK (usa plutônio como combustível), que é muito instável à baixa potência, diferente dos geradores utilizados no Brasil, do tipo PWR, que utilizam urânio como combustível, sendo assim mais seguros e eficientes. Portanto, o vazamento de Chernobyl não se aplica à realidade do projeto nuclear brasileiro e foi bastante destrutivo devido à inexistência das medidas de segurança previamente citadas. Seu reator estava presente no interior de um galpão carente de qualquer tipo de isolamento com o mundo exterior.

O Brasil possui grande potencial para produção e auto-suficiência em energia nuclear através do urânio, possivelmente até exportando o excesso da produção de energia elétrica gerada pelo recurso em questão. É possível prever um aumento da relevência da energia nuclear na matriz energética como fonte complementar à demanda nacional. Entretanto, os órgãos fiscalizadores (IBAMA), legisladores e administradores (SEMA e CONAMA) sofrem com a falta de normas que seriam adotadas a fim de promover um melhor aproveitamento do recurso. Há necessidade de maior rigorosidade na execução da fiscalização dessa prática, já que se trata de um material perigoso, tanto para o meio ambiente quanto para o próprio Homem, que se beneficia dele.

Hoje mesmo (08/09) José Serra, governador de São Paulo, criticou o governo federal pela falta de planejamento e metas a serem seguidas: “Está faltando um rumo mais definido, um projeto que a Nação tenha uma percepção melhor, para onde vai e possa também decidir a respeito desse futuro caminho.” - disse Serra. Quem sofrerá com essa irresponsabilidade somos todos nós, que teremos que enfrentar um apagão crônico até o fim dessa década devido à falta de investimentos no setor energético. Por essa razão, o Brasil será obrigado a aumentar o número de termelétricas nos próximos anos a fim de suprir essa demanda crescente e comprometerá sua posição privilegiada no mercado de créditos de carbono, fruto de uma política de utilização dos recursos hídricos como fonte de energia principal.

Mas olhemos pelo lado bom: O país tem crescido pouquíssimo (para ser mais específico, só ganhou do Haiti neste ano) e isso possivelmente adiará o nosso apagão estrutural. Não adiantará rezar pela chuva, como fizemos em 2001, dessa vez teremos que rezar para que, na próxima eleição, o povo escolha alguém mais preocupado com este país. Já pensaram se hoje o Brasil crescesse a um ritmo alucinante como a China, criando milhares de empregos e ganhando novos mercados??? Que horror seria!!! Ficaríamos sem luz em 6 meses!!! Pelo menos é o que deve estar pensando Lula e seus poucos acessores.

Por maior que seja este país de proporções continentais, eu não consigo acreditar que cobrando quase 40% de impostos faltem investimentos em infra-estrutura e energia. Na minha opinião, precisamos mandar esses políticos corruptos e sem senso de coletividade para a cadeia e planejar melhor nosso futuro, começando dentro de nossas casas. Se a nossa sociedade se der conta disso, um dia se refletirá na nossa política também.

Por fim, uma frase de José Serra e algumas perguntas para que os apreciados leitores reflitam, neste fim-de-semana de comemoração ao dia da independência:

“Um requisito fundamental do desenvolvimento é o crescimento sustentado da economia, ano após ano, e não bolhas de crescimento em determinados momentos. O Brasil precisa desse projeto para gerar emprego, para gerar renda para as famílias. Emprego e renda são condições essenciais para que as pessoas possam progredir e aproveitar as oportunidades na vida. Essa é a minha preocupação essencial num dia como hoje, em que comemoramos nossa independência.”

Somos independentes? Ou ainda há milhões de brasileiros que não ganham o suficiente para decidirem seus futuros e escolherem suas oportunidades na vida? Seriam eles escravos da falta de oportunidade?

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